Danço com uma mulher que tem um tufão nos quadris. Testa com testa. Me aperta e chega ao meu ouvido, maravilhosamente bêbada, enquanto rodopiamos:
– Tu lês?
– Leio.
– Adélia Padro?
– Sim.
– Marta Medeiros?
– Não gosto.
– Que mais?
– Saramago, Bukowski, Gabo.
– Adoro.
– Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Ginsberg…
– Clarice, Couto, Drummond, Florbela, Carolina…
– Rubem, Nelson, Baudelaire, Capote, Machado, Cora…
– Evoé, jovens artistas…
– A leitura me salvou.
– Como assim?
– Não fossem os livros, seria um cadáver.
– Mortinho da Silva.
– Nem de susto, nem de vício. De bala.
– E escreves?
– A escrita também me salvou.
– Tu também me salvaste, baby.
E a música parou.
(Vá ouvir Nasci para bailar, do Paulo André Barata/João Donato)