
Jair desce a rampa do Planalto sob o rugido da multidão.
É um leão subnutrido, trêmulo. Insone e acabado. As feições de um rato na chuva.
No fim do caminho havia um camburão. Havia um camburão no fim do caminho.
Ordens são ordens, capitão, diz o policial constrangido enquanto o acusado entra no carro.
Em um apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro, outra equipe mete o pé na porta.
Encontram Carlos e o primo. Dormem nus de conchinha no quarto principal.
Ao perceber, ele berra histérico e precisa ser contido.
_ Vocês estão fodidos! Papai vai saber!
Sai de algemas enrolado na toalha direto para a Polícia Federal.
O primo fica atônito, mas logo se recupera e instala o Grindr e manda um Whatsapp pro deputado e ex-ator pornô que conheceu no Congresso.
Escondido em um clube de tiro em Brasília, Eduardo resiste armado de fuzil.
Passa três horas descarregando a munição, sitiado. Lágrimas nos olhos dentes trincados, o coração aos pulos.
Percebe que está sem saída.
Cheira três carreiras, uma atrás da outra. Acaba a perseguição com um tiro na própria boca.
Michele consegue fugir em um jatinho particular.
Está rastreada e será capturada assim que descer numa ilha da América Central.
Num bunker subterrâneo em Rio das Ostras, Flávio reúne os membros do Escritório. Julgam Fabrício e o condenam: pena de morte.
Cagueta morre feio, grune um miliciano da roda.
Ali mesmo o colocam dentro da pilha de pneus, embebedam-no com gasolina e o queimam vivo.
Grita de sucumbir às chamas:
_ Filhos da puta.
Flávio ordena aumentar o estoque de mantimentos e reforçar o arsenal. Quer resistir.
Nas ruas, os protestos comem solto.
Carros incendiados, bancos depredados, bombas caseiras a esmo e conflitos entre polícia e manifestantes.
As capitais e mais de três mil municípios estão conflagrados.
O morro desceu pra cidade, finalmente.
Em Curitiba, Luís Inácio assiste os telejornais perplexo com as últimas notícias. Só para com os rumores fora da cela.
Estrondos, gritos, tiros, correria.
A turba derruba as grades.
O condenado se recusa a sair.
_ Só saio quando provar minha: inocência e Moro e Dallagnol…
É interrompido.
O grupo o carrega na marra e ele já está nas ruas com o povo que o esperava numa vigília de mais de um ano.
Sobe em um carro-som e começa a falar.
Numa cozinha do subúrbio do Rio, uma mulher ajuda o marido com uma mala.
Eu falei que ia dar merda, ela repete, entre furiosa e apavorada.
A TV ligada noticia o caos.
Corre que eles chegaram avisa.
Beija o homem.
Ele entra no carro.
_ Pra onde a gente vai, senhor?
O motorista responde tranquilo:
_ São Luís encontrar o Dino.
_ Fica calmo que agora você está seguro, diz outro membro da Ursal.
E cortam a noite no blindado com o porteiro no banco de trás tremendo de medo.
(Vá ouvir o Rock da escada)